domingo, 22 de junho de 2014

Educação Escolar Indígena

O termo “edu­cação es­colar in­dí­gena” é atu­al­mente uti­li­zado para dis­tin­guir o en­sino formal em con­tra­ponto à edu­cação in­formal de­sen­vol­vida no pro­cesso de so­ci­a­li­zação tra­di­ci­onal e es­pe­cí­fica a cada povo in­dí­gena. O con­ceito de Edu­cação Es­colar In­dí­gena como di­reito, ca­rac­te­ri­zado pela afir­mação das iden­ti­dades ét­nicas e as­so­ci­ação im­pres­cin­dível entre es­cola, so­ci­e­dade e iden­ti­dade em con­so­nância com os pro­jetos so­ci­e­tá­rios de cada povo in­dí­gena, é ori­gi­nário do Mo­vi­mento In­dí­gena, que tem como ob­je­tivos, entre ou­tros, a re­flexão sobre os pro­blemas co­muns vi­vidos pelos pro­fes­sores in­dí­genas e as al­ter­na­tivas en­con­tradas na edu­cação es­colar, vi­sando ga­rantir que a cul­tura e os co­nhe­ci­mentos an­ces­trais sejam res­pei­tados e va­lo­ri­zados.

“A edu­cação tem que tá dentro da al­deia, for­te­mente, acom­pa­nhando todos os es­paços. Eu acho que edu­cação não é só dentro da sala de aula. Na al­deia, a edu­cação tá em todos os es­paços”. Ca­cique Babau / Tu­pi­nambá da Serra do Pa­deiro.


Te­re­zinha Maher de­fine que “nas so­ci­e­dades in­dí­genas, o en­sinar e o aprender são ações mes­cladas, in­cor­po­radas à ro­tina do dia-a-dia, ao tra­balho e ao lazer e não estão res­tritas a ne­nhum es­paço es­pe­cí­fico. A es­cola é todo o es­paço fí­sico da co­mu­ni­dade”. MAHER, Te­re­zinha Ma­chado Maher. For­mação de Pro­fes­sores In­dí­genas: uma dis­cussão in­tro­du­tória. In: GRU­PIONI, Luís Do­ni­sete Benzi, (org.). For­mação de pro­fes­sores in­dí­genas: re­pen­sando tra­je­tó­rias, Bra­sília: MEC/SECAD, 2006, p. 11-37.

Ser co­mu­ni­tária é uma das ca­rac­te­rís­ticas que ca­rac­te­rizam a es­cola in­dí­gena no Re­fe­ren­cial Cur­ri­cular Na­ci­onal para as Es­colas In­dí­genas, “porque é con­du­zida pela co­mu­ni­dade in­dí­gena, de acordo com seus pro­jetos, suas con­cep­ções e seus prin­cí­pios. Isto se re­fere tanto ao cur­rí­culo quanto aos modos de ad­mi­nistrá-la. In­clui li­ber­dade de de­cisão quanto ao ca­len­dário es­colar, à pe­da­gogia, aos ob­je­tivos, aos con­teúdos, aos es­paços e mo­mentos uti­li­zados para a edu­cação es­co­la­ri­zada” (MEC, 1998).

A Edu­cação Es­colar In­dí­gena na Bahia, res­pal­dada numa con­cepção de edu­cação en­quanto pro­cesso de cons­ti­tuição e for­ta­le­ci­mento de uma edu­cação es­pe­cí­fica, in­ter­cul­tural e di­fe­ren­ciada, está re­fe­ren­ciada pelo Ter­ri­tório Et­no­e­du­ca­ci­onal Yby Yara, nova con­fi­gu­ração da po­lí­tica edu­ca­ci­onal que ob­je­tiva apri­morar o re­gime de co­la­bo­ração entre o MEC, es­tado, mu­ni­cí­pios e or­ga­ni­za­ções in­dí­genas, para efe­tivar uma edu­cação es­colar in­dí­gena de qua­li­dade, res­pon­dendo às ne­ces­si­dades edu­ca­ci­o­nais e às es­pe­ci­fi­ci­dades so­ci­o­cul­tu­rais dos 16 povos in­dí­genas da Bahia.

A co­or­de­nação geral das ações da edu­cação es­colar in­dí­gena é de res­pon­sa­bi­li­dade do poder pú­blico Fe­deral/MEC e a exe­cução dessa po­lí­tica acon­tece em re­gime de co­la­bo­ração entre os entes fe­de­rados através da or­ga­ni­zação dos Ter­ri­tó­rios Et­no­e­du­ca­ci­o­nais dis­tri­buídos em todos os es­tados bra­si­leiros que pos­suem po­pu­la­ções in­dí­genas.
Edu­cação In­dí­gena é in­tras­so­cial e acon­tece no con­texto so­cial em que se vive, dis­pen­sando o acesso à es­crita e aos co­nhe­ci­mentos uni­ver­sais, pois cada povo in­dí­gena tem suas formas pró­prias e tra­di­ci­o­nais de edu­cação ca­rac­te­ri­zadas pela trans­missão oral do saber so­ci­al­mente va­lo­ri­zado.

Edu­cação Es­colar In­dí­gena - é uma forma sis­te­má­tica e es­pe­cí­fica de im­ple­mentar a es­cola entre as co­mu­ni­dades in­dí­genas de tal forma que a partir das formas de cons­trução do co­nhe­ci­mento pro­pri­a­mente in­dí­gena possa ter acesso aos co­nhe­ci­mentos uni­ver­sais sis­te­ma­ti­zados pela es­cola nos con­teúdos cur­ri­cu­lares que por sua vez pres­supõe o uso da es­crita e ar­ti­culá-los de ma­neira re­fle­xiva ao con­texto sócio-cul­tural in­dí­gena. Não é uma questão nem de adap­tação por parte dos in­dí­genas aos co­nhe­ci­mentos da so­ci­e­dade não in­dí­gena e nem de adap­tação dos co­nhe­ci­mentos da so­ci­e­dade não in­dí­gena ao con­texto sócio-cul­tural in­dí­gena, mas sim de cons­trução con­junta de um saber in­ter­cul­tural.

Prin­ci­pais ob­je­tivos da Edu­cação Es­colar In­dí­gena:

  • Va­lo­ri­zação das cul­turas dos povos in­dí­genas e a afir­mação e ma­nu­tenção de sua di­ver­si­dade ét­nica;
  •  For­ta­le­ci­mento das prá­ticas so­ci­o­cul­tu­rais e da língua ma­terna de cada co­mu­ni­dade in­dí­gena;
  • For­mu­lação e ma­nu­tenção de pro­gramas de for­mação de pes­soal es­pe­ci­a­li­zado, des­ti­nados à edu­cação es­colar nas co­mu­ni­dades in­dí­genas;
  • De­sen­vol­vi­mento de cur­rí­culos e pro­gramas es­pe­cí­ficos, neles in­cluindo os con­teúdos cul­tu­rais cor­res­pon­dentes às res­pec­tivas co­mu­ni­dades;
  • Elaboração e pu­bli­cação sis­te­má­tica de ma­te­rial di­dá­tico es­pe­cí­fico e di­fe­ren­ciado; e afir­mação das iden­ti­dades ét­nicas e con­si­de­ração dos pro­jetos so­ci­e­tá­rios de­fi­nidos de forma autô­noma por cada povo in­dí­gena.



Conteúdo disponível em: 
escolas.educacao.ba.gov.br/educacaoindigina/educacaoescolarindigena#sthash.ojzRdur6.dpuf

A Educação Escolar Indígena nos censos educacionais – 2002 a 2006


Os dados do Censo Escolar Inep/MEC 2006 mostram que a oferta de educação escolar indígena cresceu 47,3% nos últimos quatro anos. Em 2002 tínhamos 117.171 alunos frequentando escolas indígenas em 24 unidades da federação. Já em 2006 este número chega a 172.591 estudantes em cursos que vão da educação infantil ao Ensino Médio. O gráfico a seguir mostra que a expansão anual da matrícula em escolas indígenas aproximava-se da taxa de 10% ao ano. 
Estudantes indígenas na educação básica - 2002/2006

De acordo com o Censo Escolar 2005, os estudantes indígenas estavam distribuídos nos diversos níveis e modalidades de ensino, conforme consta na tabela abaixo: 

Alunos indígenas em escolas indígenas, segundo o nível e modalidade de ensino - 2005
Níveis/ Modalidades
Total de Alunos
% sobre total
Educação Infantil
18.583
11,3%
Ensino Fundamental – 1° segmento
104.573
63,8%
Ensino Fundamental – 2° segmento
24.251
14,9%
Ensino Médio
4.749
2,9%
Educação de Jovens e Adultos
11.862
7,2%
Total
164.018
100%

Alunos indígenas em escolas indígenas, segundo o nível e modalidade de ensino - 2006
Níveis/ Modalidades
Total de Alunos
% sobre total
Educação Infantil
18.846
10,9%
Ensino Fundamental – 1° segmento
104.906
60,8%
Ensino Fundamental – 2° segmento
28.226
16,4%
Ensino Médio
7.630
4,4%
Educação de Jovens e Adultos
12.983
7,5%
Total
172.591
100%


Escolas indígenas segundo a dependência/categoria administrativa - 2005
Escolas Indígenas
N° de escolas
Estaduais 1.083
Municipais 1.219
Particulares 22
Total 2.324

Escolas indígenas segundo a dependência/categoria administrativa - 2006 
Escolas Indígenas
N° de escolas
Estaduais 1.112
Municipais 1.284
Particulares 23
Total 2.419


            Escolas indígenas segundo a dependência/categoria administrativa - 2006

Conteúdo disponível em: http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoindigena.pdf


Indígenas têm direito a uma educação escolar específica

  Os Povos Indígenas têm direito a uma educação escolar específica, diferenciada, intercultural, bilíngue/multilíngue e comunitária, conforme define a legislação nacional que fundamenta a Educação Escolar Indígena. Seguindo o regime de colaboração, posto pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a coordenação nacional das politicas de Educação Escolar Indígena é de competência do Ministério da Educação (MEC), cabendo aos Estados e Municípios a execução para a garantia deste direito dos povos indígenas.
   Com vistas à garantia desse direito fundamental e de cidadania, a Funai, enquanto órgão federal articulador das politicas indigenistas, atua com o objetivo de contribuir na qualificação dessas políticas e de, junto aos povos indígenas, monitorar seu funcionamento e eventuais impactos, ocupando espaços de controle social tanto em âmbito nacional como local. Essa atuação considera experiência e o conhecimento especializado acumulado ao longo do tempo pela atuação junto aos povos indígenas.
  A politica educacional guarda relações inerentes com outras políticas e ações, desenvolvidas pela FUNAI e por outros órgãos de governo, voltadas aos povos indígenas, como políticas voltadas à gestão territorial, à sustentabilidade, à saúde, etc. Por isso, a harmonização dessas ações convergentes, sob coordenação da Funai, é fundamental para o estabelecimento de relações do Estado com povos indígenas que reconheçam e respeitem a autonomia dos povos indígenas e suas formas próprias de organização.

Conteúdo disponível em: www.funai.gov.br/index.php/educacao-escolar-indigena